terça-feira, 1 de maio de 2012




"Foram muitos dias nessa tortura,
então entenda que percorri todas as rotas de fuga.
Cheguei a procurar notícias suas pelos jornais,
pois só um obituário justificaria tamanha demora em uma ligação.
Enfim, por muito mais tempo do que desejaria,
mantive na ponta da língua tudo o que eu devia te dizer,
e tudo o que você merecia ouvir, e tudo. Mas você não ligou.
Mando esta carta, portanto, sem esperar resposta.
Nem sequer espero mais por nada, em coisa alguma, nesta vida, pra ser sincera.
No que se refere a você, especialmente, porque o vazio do seu sumiço já me preenche;
tenho nele um conforto que motivos não me trarão.
Não me responda, então, mesmo que deseje.
Não quero um retorno; quis, um dia, uma ida.
Que não aconteceu, assim deixemos para lá.
Estaria, entretanto, mentindo se não dissesse que, aqui dentro,
ainda me corrói uma pequena curiosidade.
Pois não é todo dia que uma pessoa não vai e não liga, é?
As pessoas guardam esses grandes vacilos para momentos especiais, não guardam?
Então, eis a minha única curiosidade:
você às vezes pensa nisso, como eu penso?
Com um suave aperto no coração?
Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir?"

Fernanda Young

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